Este blog é uma idéia antiga que pretende se transformar em um livro que conta a história e o entendimento de várias pessoas sobre o Straight Edge...aqui cada pessoa tem a oportunidade de colocar sua visão sobre o SXE, sobre a cena brasileira, sendo essa pessoa sxe ou não...gostaria que os interessados mandassem um email com uma foto sua, junto com o texto contendo idade, local onde mora, profissão, desde quando é sxe ou quanto tempo foi, os motivos que o levaram a ser ou deixar de ser, bandas e zines do qual fez ou ainda faz parte...enfim, um texto que posso ajudar a traçar ou manter viva a história do SXE no Brasil...mande email para: falandosobresxe@gmail.com STAY TRUE!!!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Marcio Rogério, 31 anos. Joinville/SC. Straightedge desde 1998. Engenheiro Civil...

Acredito que o principal motivo de ter me envolvido com o hardcore foi o fato que eu poderia mostrar minhas idéias, conclusões e reflexões sobre minha vida e tudo que me afetava. Dessa forma interagindo com todos os indivíduos que faziam parte dessa cultura. Trocar experiências que pudessem ser produtivas em nossas vidas. Uma rede de informações e politização. A cena vista como um enorme fórum de discussões e como uma extensão em minha vida. E nessa busca de um garoto que queria algo mais que entretenimento eu encontrei o straight edge que para mim, ainda hoje, considero umas das formas mais extremas do punk. Além de tudo o que o punk representava, ainda tinha essa postura de não se entorpecer e não consumir certos produtos. Ainda hoje vejo o straight edge como postura pessoal que utiliza o boicote como arma contra as armadilhas que temos preparadas para nós todos os dias fora e dentro de nossas casas, sejam essas armadilhas vícios químicos ou sociais...escrevi esta parte inicial do texto em um zine que publiquei anos atrás, o Fúria Cotidiana zine...ainda hoje concordo com o que escrevi naquela época...mas escrevi esse texto aproximadamente em 2004, alguns anos depois de ter me assumido straight edge...adotei o SXE como meu estilo de vida em 1998. Desde 94 eu frequentava shows de punk/hardcore em Joinville e região...algumas bandas locais e amigos me motivaram a freqüentar shows e se envolver com o underground. Sempre gostei de ter conhecer as bandas, ter informação sobre as coisas da qual estava fazendo parte, não seria diferente com o punk/hardcore e a cultura faça você mesmo...nessa época eu e o meu amigo Glademir começamos a freqüentar shows no Curupira, casa de shows em Guaramirim, cidade vizinha...sempre rolava umas excursões, foi aí que fui conhecendo o pessoal do Alpha Asian Malaria, The Power of the Bira e Tormentos dos Vizinhos, bandas que de certa forma tinham envolvimento com o punk/hardcore, e que foi importante como primeiro contato com o underground propriamente dito, porque até então eu só tive contato com revistas e discos mais comerciais...me lembro que um dos primeiro shows marcantes no Curupira pra mim foi o da banda argentina Diferente Atitude Juveniles, toda aquela energia, aquela raiva...aquilo me fascinou e fascina até hoje. Então até 98 eu freqüentei shows e entrei em contato com varias bandas, distribuidoras, tudo mediante cartas...me lembro que demorava muito tempo pra se ter uma resposta...mas quando vinha uma carta com aquele zine, demo era uma festa...hahahaha. Através desse pessoal das bandas locais eu conheci bandas como Fugazi e Minor Threat, ai meu interesse pelo SXE começou a aumentar...
Me lembro que nessa mesma época saiu uma reportagem na revista Dynamite que falava sobre isso e tinha o endereço do S.E.L.F....não perdi tempo e mandei uma carta pedindo informação, zines e essas coisas...quem me respondei foi o Kalota do Self Conviction/Point Of No Return, me dando vários endereços de zines nacionais...mandei carta pra vários, mas apenas um me respondeu, no caso o Silvio do zine Punto de Vista Positivo...pra mim um dos melhores zines que falava sobre straight edge e a cultura faça você mesmo, com uma abordagem totalmente politizada...esse zine foi de grande importância pro meu entendimento do que vinha a ser o SXE.
Outro fato marcante foi que numa casa de shows daqui, a Casa do Rock, tava rolando uns shows de umas bandas de CWB e da Argentina, isso no final de 97/inicio de 98, não lembro mais...acho que tocou Anger Builds e umas bandas argentinas que não consigo mais lembrar...eu tava com uma camisa do Gorilla Biscuits e o pessoal de CWB veio conversar comigo...nessa época eu já era vegetariano, mais tarde nesse mesmo ano me tornei vegan, mediante pesquisa em zines/revistas...um zine importante pra mim em relação ao veganismo foi o zine A Questão Mais Forte, que tinha uma abordagem extremamente politizada sobre veganismo...mas voltando ao show, neles estavam meus amigos Pedro (Livre de Deuses zine), Glademir e Maikon K...velhos amigos do punk/hardcore...os únicos que tenho contato ainda são o Glade e o Maikon...depois disso comecei a me corresponder com o Klaus de CWB, que eu e o Maikon conhecemos no show em questão e as coisas foram acontecendo...depois veio a internet e as coisas cresceram exponencialmente...nossa como to ficando velho...hahahaha...varios shows em CWB, o pessoal daqui começou a organizar shows aqui também, sempre ajudei na medida do possível...rolou alguns shows marcantes em um bar chamado Chaplin, como Rethink e Vieja Escuela, e no parque aquático Calientes...no Calientes rolou show do Catharsis, que foi organizado pelo meu irmão Marcel (vegan sxe desde 98 também) e o pessoal da banda na qual ele cantava, o Cabala...mas o show mais marcante foi organizado em conjunto com o pessoal de CWB, o Calientes Hardcore Fest...até hoje lembrado. Esse show rolou durante dois dias no parque, o pessoal acampou, curtiu o parque aquático, futebol, palestras de integrantes do MST e shows de varias bandas...um fato marcante aqui em Joinville. Isso era legal nessa época, o fato do hardcore ter uma inclinação mais politizada, e afinidade com movimentos sociais/contraculturais...hoje em dia muito disso morreu, mas ainda existem coisas daquela época que sobreviveram, como as Verduradas, que eram shows com o propósito de divulgar a cultura hardcore/veganismo...aqui em Joinville tentamos inúmeras vezes fazer coisas nesse sentido, mas sempre rolou problemas...nunca teve uma cena sxe aqui, mas pessoas envolvidas com punk/hardcore...
O pessoal teve bandas, organizou e publicou zines...meu amigo Maikon até hoje está envolvido com algumas manifestações e movimentos sociais, publicou algumas edições do Mau Humor zine...eu juntamente com o Luis da banda Nunca Inverno (Blumenau) publiquei três edições do zine FÚRIA COTIDIANA, zine que abordava vários temas relacionados ou não a cena SXE, com entrevistas com bandas, textos, resenhas...foi uma época legal, sempre gostei de zines, pena as pessoas inseridas dentro do hardcore terem mudado certos valores...hoje em dia as coisas são mais superficiais, pouco interesse em assuntos e discussões políticas...entre 2004 e 2008 eu cantei também em duas bandas de hardcore, o VIDAS EM CHAMAS, com uma temática mais pessoal, que acabou lançando duas demos...e por ultimo o BREATHING AGAIN, que lançou uma demo...com essa ultima foi uma experiência mais interessante, letras bem mais trabalhadas, musicalmente também teve uma evolução...foi importante trabalhar com pessoas/amigos e lidar com suas limitações e diferenças...as duas bandas tiveram vida curta, porque o problema se encontrava em manter unido os integrantes, muitos se mudaram para outras cidades, tomaram rumos diferentes, mas valeu a pena...sempre discutíamos isso, se tivéssemos bandas mais expressivas aqui em Joinville talvez as coisas tomassem a forma de uma cena, com shows e manifestações culturais com uma freqüência maior, dando mais vida e expressão a cultura punk/hardcore em nossa região...mas sempre rolou divisão e dificuldade em encontrar locais para esses shows...e também tem o fato que as pessoas ligadas a cultura underground aqui terem uma certa aversão ao hardcore com uma inclinação mais politizada...
Hoje ainda existe focos de resistência, temos o pessoal do Coletivo Contraparte, que sempre tentou manter política/discussão inseridos no shows realizados pelo coletivo, sempre no esquema faça você mesmo...mas as pessoas de Joinville sempre tiveram uma certa aversão a isso, uma pena mesmo...a essência da coisa vai se perdendo e dando lugar aos mesmos vícios e problemas que fazem parte de nossa sociedade dentro do punk/hardcore, mas em escala reduzida...mas de certa forma, todas as possíveis manifestações com o intuito de manter acesa a chama tem seu valor, seja através de webzines, blogs, sites, zines impressos, bandas, shows/palestras e outras manifestações contraculturais...